O serviço de pagamentos móveis Pix, criado pelo Banco Central do Brasil, “fisgou” quase todo o país em apenas um ano.

Todo mundo – desde organizações sérias até aqueles caras que ficam na estação de trem com uma placa dizendo “Me dê uma mãozinha para uma passagem para casa” – começou a usar suas chaves e códigos QR para transferências.

Quase todos os brasileiros usam o Pix. É o que diz o site oficial do serviço.

Os desenvolvedores conseguiram prever quase tudo o que era possível: cortar a maioria das oportunidades de fraude on-line, superar com confiança todos os sistemas de transferência internacional existentes, como o Apple ou o Android Pay, e conquistar o amor geral (se você ler até o fim, terá a confirmação mais eficaz disso).

E agora vou lhe contar como esse Pix é organizado

Apesar de o Pix ter aparecido em meio à pandemia, não se pode dizer que foi o motivo de seu surgimento: o novo serviço foi anunciado no verão de 2019, quando nenhum covid ainda estava fora de questão.

Mas o sistema, é claro, saiu o mais oportuno possível: em 2020, o número de pagamentos digitais em todo o mundo aumentou muitas vezes.

telefone com PIX
Como eram as coisas antes do Pix

Em geral, de todos os países da América Latina, o Brasil tem as melhores condições para o surgimento do comércio eletrônico. Em vilarejos e lugarejos remotos, é claro, muitas vezes não há Internet. Mas 87,5% da população vive nas cidades, e 181,8 milhões dos 216 milhões de habitantes do país estão conectados à rede. O Brasil ocupa o quinto lugar no mundo em número de telefones celulares e o quarto em número de usuários de Internet. Além disso, de acordo com a GlobalWebIndex, os brasileiros passam mais tempo nas redes sociais do que os residentes de qualquer outro país do Hemisfério Ocidental.

Dito isso, na época do lançamento do Pix no Brasil, você podia gastar dinheiro de quatro maneiras:

  1. Pagar com um cartão bancário.
  2. Pagar com dinheiro (ou enviar para parentes em um envelope).
  3. Fazer uma transferência TED (Transferência Eletrônica Disponível) ou DOС (Documento de Ordem de Crédito). Não é de graça, é claro: a taxa para qualquer um deles pode ser de até R$ 11, e é um pouco mais caro fazer isso em um banco do que on-line. A diferença entre eles é que com o TED você pode enviar qualquer quantia de dinheiro, e ela chegará ao destinatário no mesmo dia (se a transferência tiver sido feita em dias úteis e antes das 17:00), e o DOC permite que você envie no máximo 5.000 reais, e eles “cairão” na conta do destinatário somente no dia útil seguinte (mas somente se você tiver tempo de enviar a transferência antes das 22:00). Ou seja, você tem a noite inteira para cancelar o DOC se, de repente, perceber que cometeu um erro.
  4. Use boleto bancário. Esse sistema foi introduzido em 1993 e foi inicialmente chamado de Boleto Bancário, mas depois foi atualizado para Boleto Flash. A diferença é que antes você precisava de muitos detalhes, a transferência levava vários dias para ser creditada e só podia ser feita pessoalmente, mas agora os pagamentos on-line estão disponíveis, por código de barras e em apenas algumas horas. Projetos de código aberto, como o BoletoPHP, permitem que os comerciantes criem boletos bancários não registrados sem interagir com um banco. Acima de tudo, os boletos são como cheques de um talão de cheques: são boletos de pagamento com números exclusivos que os bancos (ou aplicativos bancários) podem gerar em papel ou em formato eletrônico. Qualquer pessoa pode imprimir seu boleto por conta própria. Ou seja, para pagar em qualquer lugar, não é necessário fornecer o número do cartão de crédito a terceiros, mas simplesmente entregar o “boleto”. É possível sacar o boleto on-line ou pessoalmente em agências bancárias, caixas eletrônicos, agências lotéricas e alguns supermercados (em resumo, literalmente em qualquer lugar). O valor total pode ser debitado de uma só vez ou em parcelas. Você pode usá-los para pagar contas, comprar bens e serviços. A principal limitação é que o boleto tem sua própria “data de validade” e pode ser usado livremente somente até o vencimento. Depois disso, você só pode levar o cheque à agência do banco emissor.

O boleto tem duas desvantagens muito grandes:

  • Devido a atrasos na confirmação do pagamento ou a pequenos erros, que são muito fáceis de cometer ao inserir uma pilha enorme de dados, as compras são frequentemente canceladas.
  • Acontece que o sistema não é nada seguro: o boleto foi epicamente hackeado algumas vezes: os fraudadores usaram cópias de cheques existentes e já possuídos para transferir dinheiro das contas dos clientes diretamente para seus bolsos. Um pouco de habilidade de hacking, um pouco de engenharia social e voilà: alguns bilhões de dólares já no seu bolso!

De uma forma ou de outra, em 2019, aproximadamente 77% das transações de varejo no Brasil foram feitas em dinheiro.

Pix

“A sociedade exige algo rápido, barato, seguro, transparente e aberto”, disse Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil (BCB), e anunciou a criação de um sistema de pagamento instantâneo chamado Pix.

A propósito, Pix não é um acrônimo. O nome começa com as primeiras letras das palavras “pagamentos instantâneos”, e o “x” é a nossa variável matemática favorita, que deve simbolizar a capacidade do sistema de ser usado para absolutamente qualquer tipo de pagamento.

comprar com o PIX

Na época da criação do Pix, os cinco maiores bancos detinham cerca de 80% do total de ativos e depósitos (e há quase 200 bancos comerciais no país, no total).

O Banco Central do Brasil fez de tudo para garantir a igualdade de condições para todos os participantes e aumentar a concorrência no sistema bancário. Além disso, essa plataforma é mais um passo para a substituição do dinheiro vivo por pagamentos eletrônicos.

O BCB abriu o registro para o novo serviço onze dias antes do lançamento e obrigou todas as instituições financeiras com mais de 500.000 clientes a implementar o Pix de forma obrigatória. Todas as demais foram fortemente incentivadas a fazê-lo. Os bancos começaram imediatamente a enviar notificações aos seus usuários, convidando-os a se cadastrarem. Alguns até exageraram um pouco e registraram números de telefone e CPFs de alguns usuários automaticamente e sem sua permissão, o que é proibido.

Pois bem, em 16 de novembro de 2020, o Pix iniciou sua operação oficial.

Já oito meses depois, até quarenta milhões de pagamentos por dia estavam sendo feitos por meio dele, a maioria deles transferências pessoais, e em outubro de 2021 a Bloomberg chamou o aplicativo de onipresente no Brasil. Em novembro de 2021, mais de seis bilhões de transações, totalizando R$ 3,75 trilhões (cerca de US$ 682 bilhões), já haviam sido feitas no sistema e, em março de 2022, mais de 113 milhões de pessoas e 8,5 milhões de empresas haviam se registrado no Pix.

Gradualmente, o Pix tem sido usado para sacar dinheiro em lojas de varejo e caixas eletrônicos, agendar pagamentos e calcular automaticamente multas, descontos, juros de empréstimos etc.

Como o Pix funciona

As transações podem ser realizadas de três formas principais:

Por meio de um código QR.

Ele pode ser estático (pode ser encontrado impresso na caixa registradora de uma “Fiverot” brasileira ou na mesa de um microempresário) e dinâmico (esse código é único para cada transação e contém algumas informações adicionais: pode ser encontrado, por exemplo, em contas de serviços públicos). Do ponto de vista do pagador, no entanto, não importa qual código está à sua frente, pois em ambos os casos ele precisa ser escaneado com um telefone celular e pago pressionando alguns botões.

Por meio de NFC (Near Field Communication)

Ou seja, usando tecnologia que permite a troca de informações por meio de contato direto.

Usando Pix Keys, ou seja, chaves especiais.

Elas são de quatro tipos:

  • Número no Cadastro de Pessoas Físicas ou Jurídicas (CPF/CNPJ)
  • Endereço de e-mail.
  • Número de telefone celular.
  • Uma chave exclusiva gerada pelo sistema, que se parece com um conjunto de letras e números aleatórios. Ou seja, você não precisa vincular seus dados pessoais às informações sobre sua conta de transação.

A chave pode ser vinculada a qualquer conta em qualquer banco brasileiro ou a uma conta em sistemas de pagamento (por exemplo, iti itau ou PicPay), o que é conveniente para quem não tem cidadania ou permissão de residência.

Uma empresa não pode registrar mais de vinte chaves no mesmo banco e uma pessoa não pode registrar mais de cinco (o que, no entanto, não a impede de registrar mais cinco em um segundo banco e mais cinco em um terceiro), uma para cada conta de transação. As chaves podem ser transferidas de banco para banco, se necessário.

Não há limite mínimo para pagamentos, mas para proteger contra fraudes, os bancos e as plataformas de pagamento podem definir um valor máximo de transferências por dia ou por mês de uma pessoa. O titular da conta pode então ajustar esses limites por conta própria.

Não existe um padrão único para a aparência do recurso Pix em um aplicativo bancário. O BCB definiu os requisitos mínimos e deixou o restante a cargo dos bancos, portanto, o processo de uso desse sistema em diferentes aplicativos é ligeiramente diferente, mas isso não é crítico.

Por que o Pix é tão apreciado

Em primeiro lugar, as transferências e os pagamentos instantâneos, disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana, eram estranhos para os brasileiros.

Quero dizer, realmente instantâneos: leva apenas dez segundos para o dinheiro ser debitado de uma conta e “cair” em outra, em qualquer dia da semana e a qualquer hora do dia ou da noite. Ao mesmo tempo, ninguém está interessado em saber em qual agência de qual banco a conta foi aberta e quais detalhes estão disponíveis. Você não precisa inserir nenhuma informação da conta: o sistema resolverá tudo para você.

Sem cartões, folhas de cheque, dinheiro ou caixas eletrônicos. Você não precisa nem mesmo de uma conta bancária, apenas de uma conta digital ou de acesso à plataforma de pagamento. E não há integração com outros serviços em seu smartphone.

Os proprietários de pequenas empresas, que costumavam abrir contas em todos os bancos possíveis para evitar cobrar uma comissão de seus clientes ao pagar por bens ou serviços (que poderia ser bastante substancial – até 30% do custo), gostam especialmente desse sistema.

Em segundo lugar, o Pix é universal e multifuncional. Ele pode ser usado para enviar dinheiro de pessoa para pessoa, de pessoa para empresa, de empresa para empresa, de pessoa para governo e de empresa para governo. Então, basicamente, você pode fazer qualquer coisa: pagar impostos ou contas de serviços públicos, quitar uma dívida com um amigo, comprar um sorvete ou um carro. O Pix não depende do valor da transação ou de seu tipo.

Em terceiro lugar, não custa nenhum real para usuários comuns, e as empresas pagam uma porcentagem muito pequena. O BCB é responsável pelo gerenciamento e operação de todos os sistemas operacionais do Pix, e há muito menos intermediários envolvidos no processo de transferência do que nos métodos de pagamento tradicionais.

Em quarto lugar, o Pix permite que você faça transações em todo o mundo a partir de mais de 200 países e converta moedas estrangeiras a uma taxa bastante favorável. Ele tem até mesmo uma interface especial para negociação de criptomoedas. Não há problemas com comissões ocultas, perda de lucro devido a taxas bancárias ou atrasos no processamento de pagamentos.

Seus serviços podem ser usados por não residentes, empresas offshore, diretores e acionistas estrangeiros, e a B2BPay coleta pagamentos diretos em nome de fornecedores que fazem transações com clientes europeus.

Em outras palavras, ao desenvolver o Pix, eles tentaram levar tudo em consideração, de modo que o efeito “Uau!!!” para aqueles que estão acostumados a inserir dados intermináveis, pagar uma comissão e depois esperar alguns dias para que a transferência chegue ao destinatário foi garantido.

E por falar em segurança

No Brasil, de tempos em tempos, vários bandidos usam um método chamado “sequestro expresso” para conseguir dinheiro. Eles agarram as pessoas, levam-nas a um caixa eletrônico e, ameaçando-as com uma faca ou uma arma, forçam-nas a sacar o máximo de dinheiro possível.

Portanto, o Pix, à primeira vista, pode ser usado exatamente para a mesma finalidade – você nem precisa levar ninguém a lugar nenhum, basta pedir (in)educadamente que transfiram suas economias pelo aplicativo aqui e agora. Mas, nesse caso, será fácil descobrir os criminosos, pois todas as transações são rastreadas, não é possível usar contas criadas em nome de outras pessoas e nenhum banco permitirá que você registre o CPF de outra pessoa em sua conta.

A autenticação de dois fatores oferece proteção adicional. O código de confirmação pode ser enviado para o telefone ou e-mail registrado e, se o CPF ou um conjunto aleatório de letras foi usado como chave, ele pode ser enviado para o aplicativo.

O banco pode atrasar um pagamento que lhe pareça suspeito por meia hora durante o dia e uma hora à noite, para que possa ser cancelado se algo der errado. Além disso, há mecanismos especiais que ajudarão o remetente caso ele se depare com fraudadores.

São eles, por exemplo, o bloqueio de avisos e um mecanismo especial de reembolso.

Ao mesmo tempo, todas as informações sobre transações são criptografadas e, em segundo lugar, não estão na Internet pública, mas na rede do Sistema Financeiro Nacional (RSFN), que é completamente separada dela. E, em vez de blockchain, são usadas mensagens criptografadas assinadas digitalmente para as transações.

Tudo isso permitiu que a Pix reduzisse a fraude em mais de 90% em comparação com o uso de cartões bancários e boleto. Aqui você pode ler sobre os melhores cassinos online do Brasil com PIX.

Concorrentes do Pix

Os sistemas internacionais de pagamento rápido do Google, Apple, Android, Samsung e WhatsApp no Brasil também funcionam, é claro. Mas todos eles são bem menos populares que o Pix. Talvez também porque estejam sendo desacelerados pelo BCB. O WhatsApp Pay, por exemplo, que começou seis meses antes do Pix, foi suspenso depois de apenas uma semana porque havia dúvidas sobre sua segurança. Mas, mesmo após o relançamento, apenas 7% dos usuários do WhatsApp no Brasil registraram seus cartões de débito no aplicativo. De acordo com as estatísticas, menos pessoas usam o Google Pay hoje do que no início de 2020, e a popularidade do Apple Pay, embora tenha crescido, ainda perde para o Pix. E assim por diante.

Perspectivas futuras para o Pix

Campos Neto diz: “Ainda nem começamos e só utilizamos 5% do potencial do Pix”.

Portanto, agora o BCB está tentando descobrir como tornar possível fazer pagamentos sem conexão com a Internet. E também como criar uma alternativa para os caixas eletrônicos, bem como um sistema que permita sacar dinheiro em lojas de varejo usando o Pix. Em suma, esses caras têm muitas ideias interessantes!

A velocidade com que o Pix conquistou um país inteiro é impressionante e mostra a rapidez com que a fintech está mudando nossas vidas.

Os desafios que a fintech enfrenta geralmente não têm soluções universais. É preciso considerar o ponto de partida, o contexto, a região específica e muito mais. Da última vez, contamos como as transferências de dinheiro móvel no Quênia abalaram o sistema bancário e o que resultou disso.

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Lucas Pereira Costa

Editor-chefe

Além de sua função como analista, Lucas é um exímio escritor de artigos. Ele combina sua experiência econômica com um dom para a comunicação clara, criando artigos informativos que dissecam os aspectos econômicos dos jogos de azar. Seus artigos vão desde explorações do comportamento do consumidor em cassinos até análises do impacto econômico dos jogos de azar nas comunidades locais.

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